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De Plotino aos dias de hoje uma odisséia no real sentido da beleza e o quanto estamos distante dela
Por Eduardo Vergara
Fontes de pesquisa: IBIT - Instituto Brasileiro de Inteligência Tecnológica e Departamento de Ffilosofia da UFMG
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Condicionados a viver em parâmetros pré-definidos achando graça e beleza naquilo que já disseram um dia que era bonito, fomos assumindo posição sobre os mais diversos assuntos, levando em consideração apenas os conceitos de quem já havia formatado antes esses padrões. Assim, fomos descobrindo, desde a infância, que era melhor abandonar a própria sensibilidade em favor de manter-se dentro da “coerência” social e não correr o risco de ser chamado de “diferente”. Esse comportamento fez com que fossemos nos afastando da análise pessoal sobre o que é bonito, num processo onde abrimos mão de nossa liberdade de pensamento e expressão. Sem perceber, fomos tomando como base de beleza alguns poucos modelos, e restringindo a alegria de ver algo bonito em raros momentos.
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A criação da beleza
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O grau de felicidade das pessoas está ligado à capacidade de achar graça em algo. Não é tão difícil entender esse “link”. É natural que quanto mais coisas bonitas você consiga enxergar, mais momentos de alegria você terá. Portanto, educar a mente e o coração para perceber a beleza é um caminho para ter mais momentos de felicidade. Para Plotino, filósofo egípcio, 205 a 270 d.C., que escreveu o tratado “Acerca da Beleza Inteligível”, a alma tem o desejo amoroso de unir-se à beleza. Abrir as portas para ver beleza em número maior de coisas e pessoas pode ser entendido como aumentar as chances de sentir amor. Plotino salienta que a beleza pode ser alterada de modo significante pela mente e cita em sua obra exemplos simples como a comparação de duas pedras iguais na sua forma bruta. Ele descreve o artista que percebeu a possibilidade de beleza naquele objeto e o trabalhou no sentido de transformá-lo em uma bela estátua. Ao compará-la com o objeto primário, a pedra, mensurou a beleza produzida pela mente. Ou seja, a beleza pode surpreender e emocionar a partir da ação humana. Contudo, a criação da estátua está condicionada ao direito e à liberdade do artista em produzir aquela obra, provocando a oportunidade de produzir a beleza, e enriquecer seus sentimentos e o de outras pessoas com ela.
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A beleza pré-moldada
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A beleza que foi delineada para moldar a maioria, antes mesmos de nascermos, é a principal responsável pela não aproximação das pessoas. O fato de predicados pré-estabelecidos, que determinam o padrão de beleza, não serem encontrados num semelhante, pode romper para sempre um relacionamento que poderia dar certo, e momentos de prazer e alegria perdidos sem mesmo terem sido considerados. Esse aborto precoce ocorre logo no início da possível relação, quando o padrão de beleza diz se aquela conversa deve continuar ou não. Por exemplo, viver sob essa pauta é que nos faz decidir por um veículo ou outro. Normalmente, compramos aquele que achamos mais bonito, objeto do desejo, sem considerar o restante dos aspectos que poderiam ser mais importantes do que a própria beleza. É desse modo que agimos com as pessoas num primeiro momento, classificando-as como feias ou bonitas. A experiência de vida nos levou a especificar demasiadamente nossos padrões e a transformar o relacionamento em algo difícil de acontecer.
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A beleza no segundo tempo
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A chegada da vida eletrônica, que permite nos apresentarmos sem sermos avaliados pela beleza, foi o objeto de estudo da pesquisa desenvolvida pelo IBIT sobre o assunto. Dois aspectos de grande importância foram verificados: a derrubada da beleza como fator impeditivo de relacionamento e a necessidade do ser humano se relacionar para viver momentos de alegria. Às voltas com ferramentas como Orkut e MSN, a internet foi capaz de eliminar a primeira etapa de um contato: a beleza física. Por isso, não é raro encontrar pessoas sozinhas fisicamente dando gostosas risadas em frente à tela do computador. O mundo mudou, mas o sentido da beleza não. Continuamos a entendê-la como um fator de extrema importância. Assim, depois da fase de contato eletrônico, o primeiro item a ser tratado nos relacionamentos cibernéticos é a foto. Todo mundo quer saber o desenho físico de quem está do outro lado. Essa verificação pode determinar o fim do relacionamento, mas não tem tanta força quanto tinha num primeiro encontro físico.
A beleza no mundo abstrato
A internet é a maior evidência de que o ser humano necessita de um grau de relacionamento mais íntimo temperado com cumplicidade. Os alertas de especialistas, muitas vezes isolados em conceitos pessoais e exclusivos de suas próprias cabeças, sobre os perigos das ferramentas de relacionamento disponíveis na grande rede, soam como uma ameaça real à integridade. Certo ou errado, sem medir, pais preocupados com as armadilhas que a liberdade eletrônica dos filhos pode atrair se tornam inconvenientes bisbilhoteiros. Não raro, esse comportamento vigilante atinge casais. O fato de as pessoas se conhecerem virtualmente, trocarem idéias, se divertirem, se emocionarem e, até mesmo, fazerem sexo, ilumina a mente e os corações das pessoas. Esse contexto traz no fundo algo mais revelador, a carência humana. As gerações por muito tempo foram educadas para o isolamento e a exatidão, o chamado preto no branco. Os campos do abstrato e das variantes de relacionamento foram esquecidos. Acontecimentos virtuais são realidades, quase pegáveis de tão fortes, do habitat abstrato. Claro que não são todas as pessoas capazes de se relacionar nessa freqüência, mas é fato que os relacionamentos não se limitam a matéria. A internet é óbvia e sintetiza a verdade sobre os efeitos reais no dia-a-dia das pessoas a partir de suas movimentações virtuais. Mas, não é só de cliques que vivem os relacionamentos abstratos. Uma frase bem entendida num livro ou na boca de um mestre, o cair da ficha, uma música instrumental sem as fronteiras das palavras, o cheiro da natureza e a mágica da terra, da vida simples, se tornam extremamente poderosos quando percebidos. Apenas com um olhar mais atento, da imagem de um profundo teto vazio ao rico infinito do universo, é possível criar uma relação da existência com o cosmo e sentir isso verdadeiramente. Esse é um processo de relacionamento que, inserido no cotidiano de necessidades, prazos e padrões, acabamos por abrir mão.
O relacionamento cibernético vai bem, obrigado! Num mar de encontros virtuais, os sonhos mais guardados acabam sendo revelados entre os usuários desse mundo e eles se sentem bem com isso. Dados divulgados pela Microsoft no início de 2009 revelam que o Brasil atingiu a marca de 30,5 milhões de usuários no MSN Messenger, cerca de 11% do total mundial de 263 milhões de usuários. No Orkut, a ferramenta disponibilizada pelo Google, seis em cada dez que utilizam o serviço se dizem brasileiros, o que significa 19 dos cerca de 31 millhões de usuários. Fonte UFRJ.
A verificação da beleza
A beleza é o passaporte porque autoriza a entrada da informação para dentro de nós. Ampliar a percepção para que tenhamos um espectro maior de verificação do que é bonito, pode nos dar outra visão da vida e aumentar de modo significativo a capacidade de nos relacionarmos e de sentir prazer. Há uma verdade incontestável sobre o que sentimos e o que fazemos: o abismo entre o pensamento e a ação. Aproximar a coerência entre a atitude em relação ao que se passa na mente é promover a maturidade e a aceitação do que realmente somos. Não para todos, mas para boa parte, esse pode ser considerado um grande passo para a libertação dos padrões e a chance de visualizar em pequenas e insignificantes coisas, uma enormidade em beleza, sabedoria e o entendimento do que realmente é importante: ser feliz o máximo possível.
Beleza energética
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Sem querer que todas as coisas feias a partir de um determinado momento fiquem bonitas, podemos agir para nos apresentarmos mais bonitos e atraentes. A feiúra existe, mas pode ser modificada! Para enriquecer a capa, os recursos mais utilizados são físicos, como emoldurar o corpo com vestuário criativo e alegre, exercícios, ou por meio de plásticas. Todavia, a qualidade energética de uma pessoa pode deixá-la muito mais bonita do que é ou feia na mesma proporção. Após a credencial da beleza num primeiro momento, a energia da pessoa é o alvo de análise da alma humana. A energia bonita é a verdadeira, da essência, corajosa para dizer a que veio. A energia feia é a que vende aquilo que não é só para tentar impressionar de alguma forma. A tarefa de quem se propõe a isso é difícil e quase sempre não dá certo porque o sentimento humano dá um sinal de alerta no campo da intuição. Ser ou fingir ser é uma opção pessoal, mas o comportamento de quem está do outro lado da conversa é o de procurar a verdade e a leitura da energia faz parte desse processo naturalmente.
Beleza e liberdade
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O direito à liberdade de agir de acordo com o pensamento pessoal é um instrumento natural divino. A mente, numa incrível independência dos valores e credos, age conforme a natureza do que realmente somos. Pode ver e criar beleza em qualquer lugar dentro e fora da mente, na gargalhada ou um num olhar. Assim, a livre movimentação pessoal em prol do contato com a beleza que, como já dizia Plotino é o que atrai a alma, de nada depende. É uma decisão pessoal em busca do belo, da surpresa, da felicidade e do amor. Então, sorria! Você pode estar sendo filmado.
Mente Indomável
A insustentável leveza do pensamento que desliza sem controle pelo universo do desejo revela a essência do que realmente somos.
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Contenção - A maior parte dos estudos sobre a consciência e o corpo, classificam-os como unidades independentes de um conjunto cujos papéis são distintos. Ao contar até dez para não agirmos impulsivamente estamos forjando a nossa real vontade e nos mostrando ao meio no qual vivemos de uma forma que não condiz com a verdade do pensamento. Nesse contexto, o corpo humano é o meio de frear o desejo.
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Liberação - A mente quando só, se sente livre e autorizada a imaginar o que quer que seja e desfrutar dos prazeres quase nunca revelados aos outros. O desejo sexual, por exemplo, é revelador e capaz de nos mostrar o quanto somos diferentes fisicamente da realidade delatada em nosso pensamento.
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Contexto - Educados quanto aos parâmetros sociais que controlam as nossas ações no dia-a-dia, somos praticamente obrigados a seguir as regras petrificadas ao longo da história do ambiente no qual vivemos. Assim, aquilo que gostaríamos de fazer, ou aquilo que nossa mente já fez, fica escondido num baú lotado de desejos contidos.
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Aberração - Nossa mente só tem olhos para a aberração? Quando dá, praticamos o pecado e ninguém pode nos condenar, estamos escondidos na própria imaginação. Somos tão maus assim?
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Solidão - Para quem tem boa imaginação, a solidão é uma solução para a distração. Com o pensamento mergulhado nas mais originais orgias mentais, há quem possa criar sinfonias apenas acionando os mecanismos cerebrais. Se esse contexto for revelado pelo seu criador, como louco será rotulado, mesmo que houvesse chance de ali estar um Mozart.
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Traição - É proibido. Daí à frente não será permitido. O seu compromisso deve ser mantido. Não. Note que simplesmente vivemos para desobedecer ao que a nossa mente olha com tão bons olhos. Sempre que ela quer, existe um senão para impedir.
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Trabalho - Envolvidos numa interminável correria diária, vivemos atolados de compromissos que acabam sendo muito mais importantes do que nós mesmos. Claro que precisamos do dinheiro que vem no vácuo desses contratos. Claro que devemos obrigação ao que assinamos um dia, lá atrás. Claro que estamos satisfeitos. Mas, o que a nossa mente nos diz a respeito disso?
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Prostituição - Se pensarmos bem sobre o assunto, não é difícil perceber que vendemos a nossa mente e o nosso corpo por uma quantia no fim do mês. É por dinheiro sim! Do mesmo jeito que as assíduas formosuras agüentam seus gatos gostosos ao final da noite por um trocado, a enorme maioria de nós agüenta os mais temerosos e injustos contratempos no trabalho, que às vezes ferem até a alma. Mesmo assim, no dia seguinte levamos a nossa mente dolorida para mais um dia de amargas e imprevisíveis situações.
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Corpo - Lógico! O corpo não tem nada a ver com os problemas da mente e precisa ser alimentado. Para ele devemos dar um teto e uma caminha gostosa para descansar, mesmo que para isso tenhamos que deixar a mente de costas para a envergadura autocrática, pronta para o que der e vier.
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Princípio - O princípio é o mesmo. Atendendo a todos os tipos de ordens nos mantemos o tempo que for necessário para que possamos nos manter materialmente. Por isso, a mente voa e com muita propriedade. Graças a essa divina liberdade, a alma pode encontrar algum sossego num bonito lugar ou nos braços de alguma boa companhia. Por isso, é bom sonhar!
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Casamento - É bom enquanto dura. Quando acaba vira o caos. Quase sempre não sabemos o momento dessa transição que em muitos casamentos é fato. A verdade é que a mente nunca se casou, ela sempre foi muito além do contrato civil ou das palavras religiosas.
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Sonhador - Num mundo de poucas risadas de dentro para fora e de grosseiras palhaçadas de fora para dentro, o sonhador vislumbra a oportunidade de ser feliz em eloqüentes sinais da imaginação. Muitas vezes é questionado do que está rindo e aí vai a resposta: é de sua mente livre que se dá o direito de pensar nas idéias mais fora de propósito. Melhor do que isso é ele acreditar que a infâmia pode dar certo.
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Violência - As estruturas sociais que norteiam as nossas atitudes configuram um quadro onde a nossa mente quase nunca pode se expor como realmente é. A mordaça é tão forte que a mente pode nascer, viver e morrer sem dizer um “A” sobre a sua verdade íntima.
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Essência - Somos o resultado de todas as decisões que tomamos no passado. O nosso pensamento impulsivo revela a nossa realidade de forma pura.
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Pesquisa - Os estudos sobre o nível que a nossa mente ocupa em relação à matéria ainda são ínfimos e pautados por parâmetros pouco científicos. Apesar de raros, existem grupos de pesquisadores devidamente munidos de informação sobre o assunto. Contudo, a maior parte das formatações sobre a mente é explorada na esfera religiosa, na obscuridade mística ou na sutileza tibetana. De qualquer modo é inegável que o que pensamos é muito diferente das ações e não custa nada imaginarmos em como seria o mundo dentro de um parâmetro real sobre a nossa consciência.
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Verdade - Passar um dia falando a verdade, refletindo exatamente o que a mente gerou lá no íntimo pode ser um exercício prático para começar a entender o quanto estamos distantes da realidade dos desejos da nossa própria alma.
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Coragem - Evidentemente é preciso ter coragem um precioso atributo - para agir de acordo com a sua vontade e estar preparado para a reação das pessoas à sua nova, mas verdadeira, personalidade.
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Ganho - Liberdade. Desde os primórdios é a moeda de maior valor entre os homens. Por ela aconteceram as maiores e mais sangrentas batalhas entre os povos. Ademais, a maior pena aplicada pelo Estado contra um infrator é a sua privação. Nada é tão valioso. Ao abrirmos mão de expressar exatamente o que somos, abrimos mão de nosso bem mais precioso.
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Beleza - Admire e crie. Estar perto da beleza é aumentar em muitas vezes a chance de sua alma se sentir feliz, como há muito dizia Plotino.