Por sorte, por obra do destino, porque quem ri por último ri melhor ou porque Deus é brasileiro mesmo, pela primeira vez na história, os países mais ricos do planeta terão que reconhecer a força do Brasil em cinco áreas estratégicas. Elas poderão fazer jorrar um volume inesgotável de recursos que, de uma forma ou de outra, fatalmente chegarão às mãos de todo brasileiro. Conheça as cartas.
Etanol
O Brasil passou 40 anos desenvolvendo o álcool como combustível alternativo e ganhou uma experiência única no assunto. Depois de tanto tempo, o país revela ao mundo uma po-tência para gerar esse recurso energé-tico de um modo muito competitivo, no qual não depende de nenhum auxílio mercadológico do governo como subsídios ou diminuição de impostos. Nos EUA a situação é inversa, a produção é mantida com o auxílio financeiro do governo, que quis resolver a questão energética na marra e em tempo recorde. É delicada porque o álcool americano é derivado da cultura do milho, o que afeta toda a economia agrícola daquele país e, por conseqüência, a do planeta. A metáfora utilizada por Lula para definir a questão da falta de alimentos no mundo por causa da produção de energia foi perfeita. Disse o Presidente que, assim como o colesterol, há o etanol bom (o brasileiro derivado da cana-de-açúcar) e o etanol ruim (derivado do milho). Por causa do etanol ruim a economia agrícola mundial perdeu o rumo e os alimentos subiram de preço em escala jamais vista. Assim, o mundo começou a entender a diferença entre os dois combustíveis e o tamanho da dianteira (vantagem competitiva) que o Brasil tem na geração do etanol. As vias de produção do combustível brasileiro geram um grande e cada vez maior volume de empregos, não compromete a produção de alimentos como acontece nos EUA, contribui de modo significativo para a redução da emissão de CO2 na atmosfera e pode ajudar outros países a se ajustarem ao protocolo de Kioto com a exportação, por exemplo, de eco-gasolina com 20% ou mais de álcool.
Petróleo
O anúncio da descoberta de reservas de petróleo abundante em vários pontos do Brasil revelou ao mundo uma nova superpotência energética também nesse assunto. O país poderá estar em breve entre os 4 maiores produtores do mundo e viver uma situação de êxtase energé-tico, mantendo uma produção gigantesca de combustíveis - petróleo e etanol - como nenhum outro país poderá realizar. Como sempre, existem no meio do caminho barreiras que precisam ser vencidas, e obter dinheiro para financiar a exploração desses novos campos é o que configura o maior problema. O Brasil precisa de 240 bilhões de dólares para investir na estrutura de produção do petróleo que foi encontrado. O país não tem esse dinheiro todo e, por isso, precisa de parceiros. O Presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, aposta na correta idéia de que a exploração deve ser viabilizada através de acordos entre governos e defende que o petróleo proveniente das novas explorações seja controlado pela União. Dessa maneira, o petróleo brasileiro poderia ser explorado com investimento de países como os EUA, e de blocos como a União Européia, que tanto estão sofrendo com a alta do petróleo, o que deixa o Brasil muito a vontade para fazer a melhor das negociações. Para se ter uma idéia dessa vantagem comercial, veja o caso dos chamados carros beberrões americanos, por exemplo, que ganharam descontos colossais em inúmeras concessionárias e não conseguem desocupar os pátios. Nos EUA, caminhonetes de luxo estão sendo ofertadas ao equivalente a R$ 27.000,00 e não há venda. Os consumidores agora querem carros menores e econômicos. A distância das casas onde boa parte da classe média americana reside está sendo encurtada e os imóveis perdendo o seu valor de acordo com a quilometragem percorrida para chegar ao centro das grandes cidades. Na Europa, as greves de vários setores produtivos, especialmente o de transporte, em inúmeras cidades, espalham a dimensão do alto custo do petróleo, inclusive nos preços dos alimentos. Nesse quadro, o recurso energético brasileiro, tanto o petróleo quanto o etanol, pode ser configurado como a solução mais rápida para a crise energética americana e européia pela própria comunidade internacional, o que dá ao Brasil o mando do jogo.
“A questão do petróleo vai além da Petrobras, é um problema mundial e para nós, não interessa a imensa reserva e sim, o resultado financeiro dela. O caminho é a exploração conjunta”, esclarece Luiz Imbroisi, da Gasol Combustíveis, pesquisador do assunto há décadas.
A lei brasileira não permite operações desse tipo e a ANP - Agência Nacional do Petróleo, através de seu presidente Haroldo Lima, rebate com todas as forças a possibilidade de o Brasil dividir a exploração e partilhar os ganhos. A atitude pode ser considerada um equívoco de grandes proporções porque é como se estivéssemos rasgando o bilhete premiado. Estamos cansados de ver e rever situações desse tipo em várias áreas da economia, contudo, esse é um assunto de extrema relevância e pode resolver financeiramente todos os problemas estruturais brasileiros com a injeção de um volume tão grande de dinheiro durante o investimento na prospecção e depois os ganhos na venda da produção que, de tanto transbordar, chegaria inevitavelmente ao bolso de cada cidadão. O ajuste na lei se mostra necessário e evitaria entraves para a exploração de tanta riqueza, o que depende exclusivamente de nós, brasileiros. Para muitos analistas, as divergências entre as idéias de posicionamento estratégico da Petrobras e da ANP devem ser resolvidas rapidamente, e a interferência da Presidência da República seria de bom tamanho para isso, visto que o dinheiro do investimento estrangeiro e do lucro das operações de exploração financiaria com sobras todos os programas sociais do governo em todas as escalas, por muitas e muitas décadas.
Agricultura
As últimas reuniões da ONU mantiveram em pauta um dos assuntos mais polêmicos da história da Organização: a falta de comida provocada pela produção de energia por meios agrícolas. Ao correr contra o possível colapso energético nos EUA, o governo americano jogou todas as suas fichas na produção do milho para dele extrair o etanol. O problema é que, ao subsidiar (gerar benefícios financeiros) volumosamente a produção do milho, muitas culturas como a soja, por exemplo, deixaram de ser produzidas. O produtor arregalou os olhos nos ganhos oferecidos pela Casa Branca e migrou para a produção de milho sem pensar duas vezes. Assim, várias cadeias produtivas foram prejudicadas, até por tabela, como a pecuária, por exemplo, que teve problemas com o preço da soja, alimento para o gado, que havia subido muito pela falta do produto. Isso afetou toda agricultura mundial e a alta dos preços acabou acontecendo de modo muito simples. Não tem soja, aumenta o preço da soja. Não tem comida para o gado porque não tem soja, aumenta o preço da carne. Não tem milho, aumenta o preço da ração. Não tem ração, aumenta o preço do frango e por aí vai. O governo brasileiro tratou de esclarecer ao mundo que o etanol daqui não tem nada a ver com a crise de comida porque não tirou um só pedaço de chão da produção de alimentos. Pelo contrário, a cultura de grãos continua crescente, assim como a de cana-de-açúcar. Ambas baterão recordes de produção, garantindo que as demandas internas sejam atendidas. Para o Brasil, o momento é de oportunidades imensas, pois a crise mundial de alimentos deverá durar no mínimo 4 anos. É a hora de mostrar ao mundo o que o país é capaz de produzir e exportar, ganhando muito dinheiro e acalmando a demanda mundial durante todo o período de falta. E ainda, o Brasil é o único país no mundo a ter estrutura física agrícola suficiente para gerar produção para o abastecimento global, o que nos deixa, de novo, em condições excepcionais de negociação.
Pecuária
De acordo com a pesquisa realizada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - Cepea da Universidade de São Paulo - USP, o Brasil cresceu a produção de gado e leite em 23,96% em 2007 comparada a de 2006. O grande aumento da produção acontece no momento em que os produtores estão podendo recuperar enormes perdas do passado quando em várias situações, o leite, por exemplo, foi mantido como produto de combate promocional em quase todos os supermercados do país, obrigando os envolvidos na sua comercialização a reduzirem muito as suas margens de lucro. A demanda mundial é o principal fator positivo para essa recuperação porque está revelando aos produtores o real valor dos produtos ligados à agropecuária. Gilman Viana, secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, destaca que a principal vantagem competitiva brasileira são os recursos hídricos que o país possui. Isso influi determinantemente na capacidade de produção agrícola e pecuária, dando condições de aumentar as exportações, atendendo à demanda internacional por um preço mais adequado aos custos de produção. E mais, o mundo sinaliza aberturas mais que especiais para a carne brasileira que deverá ter o seu ritmo de produção disparado até o fim de 2008. O motivo é simples: falta comida.
Amazônia
A Amazônia é o centro das atenções. Fora todos os problemas ecológicos e sócio-culturais, que há décadas acompanham a região, a Amazônia é o símbolo institucional da saúde do planeta. Saúde todo mun-do quer e, ecologicamente falando, só o Brasil poderá oferecer. Por isso, o alvoroço multinacional sobre a matéria (veja a seguir) é de tão grosso calibre que muitos falam até em internacionali-zação da área. De qualquer modo, a Amazônia é nossa e poderá ser de grande valor em negociações mundiais quando os assuntos forem créditos de carbono, biotecnologia e recursos naturais como minério, madeira e água. Riquezas em abundância que serão de grande valia quando o resto do mundo, por necessidade, formar uma fila para consumir. Mensurar o valor exato disso tudo é impossível agora, mas, detectar a enorme vantagem comercial que essa riqueza inquestionável poderá gerar não é difícil. O que é preciso saber é a hora certa de colocar as cartas na mesa e ganhar a rodada final, onde todas as fichas do mundo estarão na disputa.