A mais poderosa ferramenta para a evolução de uma nação é a educação. Porém, os estudantes brasileiros estão entre os que têm os menores níveis de compreensão de leitura no mundo, entre os que mais matam aula e quase a metade dos alunos das escolas públicas está abaixo do nível mínimo de alfabetização da Unesco.
Por que o Brasil não consegue vencer esse desafio?
Muitos observadores da questão entendem a escola pública, seus professores (que muitas vezes falham em testes básicos de competência pedagógica), a dedução no imposto de renda sobre os custos da educação em escola privada e a política governamental como os principais responsáveis da dificuldade da boa educação no Brasil. E especialmente a afirmação do cientista político Gustavo Ioschpe de que a baixa qualidade da educação condena o Brasil ao eterno subdesenvolvimento e, ainda, que nesse ritmo vamos nos tornar um país inviável, mostra bem o nível do caos que parece nos cercar sobre o tema. Ele sugere que haja uma lei de responsabilidade educacional onde os políticos seriam responsabilizados pelo mal desempenho do ensino público. Mas, por que o congresso criaria uma lei dessas? De maneira geral, a falta de informação é um dos mais poderosos instrumentos para manter a grande massa populacional de um país sem condição de discernir sobre a própria realidade e a das pessoas candidatas a dirigirem Estados e Nações. E, pode parecer um exagero, mas, no Brasil, manter a população carente de recursos financeiros e educacionais pronta para ser manipulada de acordo com o interesse político parece ser uma das respostas mais sustentáveis à questão. Quem tem o mínimo de informação reconhece de imediato a ineficiência do Estado no que se refere, em especial, ao sistema educacional público, que se mantém firme ano a ano, por décadas, numa decadência sem lógica, injusta e covardemente imposta sobre quem necessita de uma educação produtora - o único caminho para o desenvolvimento. E, para piorar, a população como um todo passa a desconhecer o valor da informação e aplica, conseqüente e inocentemente, uma super desvalorização sobre ela. Por isso, muitas pessoas que alcançaram o poder, como o presidente Lula, por exemplo, desprezam publicamente a formação acadêmica classificando-a como um elemento não fundamental para a evolução. O problema desse pensamento situacional e individual é a conseqüência que ele gera nas pessoas que se norteiam em figuras desse grau de importância para balizar a própria vida. Muitos jovens que poderiam, por vontade própria, buscar o desenvolvimento educacional, fora até dos programas oficiais, passam a desconsiderar a validade do esforço, visto que o mesmo não parece ter relevância para quem já conquistou o ápice. Também, esse não é um conceito usado exclusivamente por parte dos políticos. Muitos empresários que venceram sem educação passaram a receita para frente. Assim, o Brasil foi ficando carente de pessoas com base para a produção intelectual, principalmente daquelas que aparecem das camadas mais pobres. Por isso, quase tudo que usamos no dia-a-dia leva a assinatura tecnológica de uma empresa estrangeira. Não temos brasileiros residentes suficientes para criar e manter cadeias de produção com valores (idéias) intelectuais agregados. Estamos ligados à linha de montagem (mão de obra) em quase todos os setores da economia. Outro agravante é que uma grande parte da população acredita não ter capacidade para se desenvolver e conquistar uma posição melhor, aceitando a situação de pobreza e a preocupação primária de sobreviver nestas condições. Ainda, acreditam que a única solução poderia vir do Estado, que, curiosamente, parece trabalhar para mantê-los cada vez mais distantes da informação, do discernimento e da dignidade.
Na classe média pode haver uma interface
Mudar esse quadro não pode mais ser considerado uma obrigação da classe política, que a cada dia deixa mais claro que não resolverá o problema. A classe média, entre ricos e pobres, com um razoável nível educacional, é que poderia iniciar um trabalho de equilíbrio social em benefício dela mesma e do todo. Muitas pessoas e empresas já mobilizam esforços em trabalhos sociais porque perceberam a necessidade de arregaçar as mangas e colocar os braços nos problemas sociais diversos que se apresentam com relevante gravidade. Campanhas dos mais variados tipos acontecem numa clara manifestação de compromisso social cada vez mais latente. Porém, é necessário posicionar a educação produtora como prioridade. As ações sociais provenientes dessas mobilizações podem e devem direcionar esforços em desenvolver programas educacionais, independente das orientações governamentais, com o objetivo de levar educação básica de alto nível ao maior número possível de pessoas. Modelos educacionais recentes que deram certo no mundo poderiam ser usados como exemplo.
O modelo da educação produtora
A educação produtora é aquela que ensina a realizar. Diferente da abundante teoria que cerca as escolas, canalizar alunos para empresas de setores variados, mesmo no período da educação fundamental, para a inicialização em tarefas práticas que pudessem dar representatividade às teorias instruídas em sala de aula, seria uma medida inovadora, e ao que tudo indica, renderia muitos frutos, não só sociais, mas também, econômicos. O papel dos funcionários destas empresas (voluntárias), conhecedoras do objetivo do “novo” programa educacional, é de ser o professor prático: delegando e cobrando entendimento, ações, qualidade, velocidade e realização. É possível que muitos, especialmente os políticos, venham classificar o conceito da educação produtora como uma forma de explorar o trabalho infantil, mas, desde já, é importante que se entenda que as empresas, dentro da idéia, são a extensão da escola, um anexo que trará o maior volume de conhecimento, usando a experiência prática como ponto de partida para a retenção da informação.
Milhões de jovens estão concluindo o segundo grau sem, ao menos, saber escrever o próprio nome. A política de formar a qualquer custo, está transformando o Brasil num celeiro de analfabetos diplomados e iludidos quanto à própria capacidade de produção, sem possibilidades de recriar o país do futuro.
O exemplo asiático
Em suas colocações, Gustavo Ioschpe, cita o sucesso das revoluções educacionais produzidas nos EUA na década de 20, e nos países asiáticos mais recentemente. De fato, tomar como base programas de países como a Coréia do Sul pode trazer, de modo concreto, frutos em menos de 20 anos. É certo que sem a participação do Estado, o esforço social é muito maior, mas ele precisa ser feito. No caso da Coréia, empresas como LG, Hyundai, Samsung e Daewoo, atuaram em inúmeras áreas da economia, adotando uma política de expansão desenfreada, patrocinando uma educação que tinha como sobrenome, a disciplina. No início da década de 60, a Coréia do Sul tinha um PIB (Produto Interno Bruto) per capita de cerca de US$ 80. Uma década depois, essa renda média já atingia US$ 1.000 e, nos anos 90, chegava à marca de US$ 10 mil. Em números absolutos, o crescimento do PIB foi impressionante: passou de US$ 62 bilhões em 1980 para US$ 457 bilhões em 2000. Com um dos índices de alfabetização mais altos do planeta, a Coréia do Sul tem em seu currículo escolar fundamental, que dura seis anos, matérias como ÉTICA, ciências sociais e artes manuais, envolvendo, nesta última, a prática da teoria. Segundo o levantamento da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico da ONU, a Coréia do Sul saltou para o 1.º lugar em volume de investimento na educação. Os resultados são claros e uma lição para o Brasil que se posiciona em 76º no Ranking mundial da educação. Não muito longe da Coréia do Sul, Cingapura aparece em 1º lugar em desenvolvimento de tecnologia. Na década de 80, Cingapura escolheu a informática como setor chave para seu desenvolvimento. Na década de 90, a telemática. Como se vê, foi tudo uma questão de escolha. Ser melhor no futuro depende de boas decisões hoje. Reconhecidamente e infelizmente, o modelo educacional brasileiro é um fracasso colossal, e uma estratégia inovadora para nós, poderia ser provocar alterações como o redirecionamento do programa de educação para um ensino de ordem prática, com a participação de empresas voluntárias, conduzido por funcionários conscientes da importância do resgate do mais poderoso instrumento de desenvolvimento social de uma nação: a educação. Já há empresas que acenam positivamente à idéia de se transformarem em escolas. Contudo, colocações pertinentes referentes a custos são feitas, indicando que seria necessária uma compensação, tal como a redução nos impostos, para que se pudesse gerir programas com essas características. Na verdade, muitas companhias já desenvolvem essa idéia de modo desconexo, aleatório e intemporal, oferecendo cursos aos funcionários que demonstram vontade de desenvolvimento. Porém, essas ações são feitas apenas por necessidade comercial. O objetivo precisa ser social, e agir sem depender do Estado e uma improvável, mas justa redução de impostos, pode fazer a diferença para a construção de uma sociedade mais capaz, produtora e feliz.
Equívocos no 3º grau
A última década se apresentou como uma pipoqueira de faculdades que, em sua maioria, produziu pessoas sem a menor capacidade de produção. No Distrito Federal 71% dos bacharéis em direito foram reprovados no exame da OAB. Esse número evidencia uma carência de competência de modo geral. Nesse ponto é que os países que hoje são exemplo para o mundo reverteram seus quadros de ineficiência. Neles, passou se a acreditar que saber fazer, educando as pessoas para a produção, é que era a prioridade. Por aqui, ao invés de direcionar esforços para o entendimento e a realização, nossas escolas ensinam as pessoas a tirar notas boas e a passar de ano; processo este que se estende até às universidades, consumidoras de fortunas privadas e públicas incalculáveis, cujo objetivo maior, pelo menos na capital federal, é o de ensinar os seus alunos a passar num concurso público, servir a um Estado pesado, sem condições de autosustentabilidade e sem produzir qualquer tostão para o país até o fim de suas vidas. Assim, vamos todos tomar “bomba”!
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