CONHECIMENTO - A nova medida de valor profissional
A fórmula da conclusão original segue o seguinte roteiro: alto volume de informação + visualização simultânea + associação de idéias + liberdade para tentativa e erro = a originalidade, resultado esse que está gerando a nova vantagem competitiva. Segundo John Howkins, escritor e empresário, Presidente do Creative Group no Reino Unido, a nova economia mundial se fundamenta em idéias - propriedade intelectual, deixando para trás a indústria, as terras e, até mesmo, o capital em si. Hoje, 17% das empresas americanas já destinam seus mais altos salários a executivos que são pagos para pensar, criar e desenvolver idéias que possam tirar produtos e serviços do lugar comum no mercado. Porém, a base de todo processo - o alto volume de conhecimento - não se refere a acúmulos teóricos, mas sim, à quantidade de experiência prática do candidato a executivo criativo. Esse predicado é o que se considera necessário para que a associação de idéias possa ocorrer com mais chances de dar certo, economizando demasiados esforços na fase seguinte, a de tentativa e erro. Isso torna o investimento no profissional criativo algo economicamente viável. E essa relatividade mais ajustada é que conta na hora de posicionar a pessoa em cargos gabaritados e muito bem pagos. Outro detalhe interessante, que se revelou constante nas empresas que adotaram essa medida de valores, é que, vivendo desconhecidas aventuras nas intermináveis escalas da paciência, as diretorias “não criativas” tiveram que aprender a dar tempo ao tempo e deixar os gênios pensarem. O mundo se acostumou a associar os criativos a artistas fantasiosos muito mais próximos do abstrato e absurdo do que de uma realidade que pudesse gerar algum fruto financeiro. Por isso, há uma dificuldade em aceitar o “time” do criativo e, para essas diretorias, a sensação é de que se está esperando, parado, por algum tipo de poesia mágica que se tem quase certeza que não vai dar certo. Mas, segundo Howkins, é justamente aí que os diferenciais aparecem, no “feeling” do poeta, que não titubeia em fazer as mais ousadas misturas. E é no vácuo do diferencial que surge o lucro.
Democracia para status, estilo e poder
Para muitos dos estudiosos americanos mais entretidos no assunto, a idéia criativa, hoje, é a principal fonte de status, estilo e poder, atributos que sempre estiveram relacionados ao patrimônio, poderio militar, religioso e político. Uma prova da mudança de paradigma são os endiabrados hakers que, com uma incrível capacidade de associação de idéias, criam os mais complexos e originais mecanismos para invadir e bagunçar a vida de pessoas, empresas e qualquer das mais protegidas instituições governamentais do mundo, sem respeitar status financeiros, políticos ou bélicos. Há quem diga que para defender militarmente uma nação, bastaria meia dúzia de hakers muito bem pagos e nenhuma arma ou pessoa a postos. E, sendo prático na análise, a toda hora nos deparamos com alguém que teve a sua conta bancária “rapada” por “meninos” super treinados pelo próprio cérebro, num contínuo ciclo de associação de idéias que acabam dando certo. Informalmente, travam batalhas diárias para vencer barreiras que muitos consideram intransponíveis, sendo capazes de deixar de cabelo em pé, “experts” de todas as esferas com afirmações do tipo: “posso controlar satélites e confundir o GPS de qualquer avião militar no ar, induzindo-o ao erro de localização e alvo”. Por todos os ângulos, negativos ou positivos, a capacidade criativa se apresenta como um diferencial de extrema relevância. Howkins acrescenta, ainda, que qualquer um pode ter a boa idéia, vez que ela é o meio democrático de o indivíduo garantir um status dentro da sociedade, desfazendo a conexão de se herdar dinheiro ou posição política para garantir um lugar ao sol. Para ele, esse é um dos motivos pelos quais a idéia criativa vem tomando espaço e grande importância dentro da sociedade, especialmente a americana, que consegue registrar uma média de 164 mil patentes originais por ano, contra apenas 220 no Brasil. Há, também, os limites impostos pelos registros de patentes. Howkins coloca que seria importante, principalmente para países em desenvolvimento, que empresas detentoras de direitos autorais e de uso de patentes pudessem liberar pesquisas e novas associações de idéias a partir de conceitos previamente registrados. Para ele, deixar que as pessoas brinquem com as idéias livremente é de fundamental importância para acelerar o processo criativo. Atualmente, as leis têm um grau de proteção à propriedade industrial que acaba inibindo a pesquisa, limitando o potencial criativo, principalmente, em países com menos recursos como o Brasil.
Diferentemente do que muitos pensam a criatividade não é um dom. Apesar de estar ligada ao instinto pessoal, à subjetividade, a processos não-articuláveis, ambíguos e confusos, ela é fruto de um esforço pessoal no uso das mais diversas técnicas de desenvolvimento disponíveis nas livrarias em infinitas publicações que ensinam como desenvolvê-la. E, para se obter conquistas no mercado futuro, é uma boa alternativa considerar a exploração do assunto e aprender a não só ser criativo, mas também, polir a própria idéia. O mercado está crescente e, tudo indica, vai continuar em alta. Forte aliada do processo criativo é a memorização por meios práticos. Para se obter resultados originais é preciso sustentar dentro do banco de dados pessoal, um bom volume de informações que possam ser casadas entre si. Mas, para que isso possa ocorrer, é preciso que as interfaces entre neurônios estejam em boas condições de comunicação, e assim, permitam fluir os dados entre eles. Por isso é fundamental que o cérebro esteja em atividade constante, promovendo trocas de informações full time, moldando-as em ações práticas, num exercício diário que podemos classificar como uma malhação cerebral, deixando-o forte e rápido para criar. Não menos importante é uma base educacional de qualidade. O fato de muitos de nós acharmos que estamos longe da configuração de um ser criativo, pode ter relação direta com o nosso histórico escolar, muitas vezes pobre demais para que nos percebamos prontos para uma original associação de idéias. Essa pobreza criativa tem a ver com o apagar das informações de nossos bancos de dados cerebrais. Isto ocorre porque só retemos conhecimento se transformarmos a informação em ações práticas relacionadas a ela. Portanto, não é difícil concluir que toda a cadeia de ensino voltada para a teoria propriamente dita, não serve, absolutamente, para nada. E, dentro do novo modelo de remuneração que exalta a criatividade como necessária para desenvolver produtos, serviços e até mesmo, mercados inteiros, teríamos que rever todo o processo educacional. Na análise, os modelos que servem a ricos e pobres estão completamente equivocados porque priorizam a teoria que, após três meses, segundo a neurocientista Lúcia W. Braga, da rede Sarah Kubitschek, é apagada da memória por falta de prática e, quando a oportunidade da criação surgir, ficará impossível usá-la. Teorizar de manhã, praticar de tarde e analisar os resultados à noite objetivando melhorar a própria performance no dia seguinte, parece simples para um modelo educacional, mas é tudo que precisamos para iniciar o processo de preparação do nosso equipamento humano para a criatividade e lucratividade.
Em São Paulo nasce um centro internacional de criatividade
Um projeto ambicioso, inovador e que vai precisar de muita estrutura para gerar resultado, começa a sair do papel para a implantação em São Paulo. Com o apoio do Ministério da Cultura e de países interessados no desenvolvimento da América Latina, África e regiões da Ásia, o centro será uma fonte de produção criativa em diversas áreas artísticas, intelectuais e culturais. “Toda a economia do planeta, a chamada economia dura - a industrialização, circulação de bens materiais, bens de consumo e commodities - se move rapidamente para uma economia de conhecimento, de informação, de intelecto, de afeto, de celebração, cultural” disse o Ministro da Cultura, Gilberto Gil, ao demonstrar que o Brasil, com o desenvolvimento do centro de criatividade, se prepara para suprir uma demanda mundial de idéias originais cada vez mais crescente. Com ele, São Paulo estaria entrando para o “hall” das cidades que têm tempo para escutar as idéias de pessoas criativas e estrutura para desenvolver e ganhar dinheiro com elas. Cidades como Los Angeles, Londres, Milão, Xangai e Cingapura, apresentam um avançado ambiente de criatividade competitiva, onde as pessoas têm espaço para mostrar as suas criações, porém, dentro de um imenso caldeirão febril onde se encontra um volume extravagante de idéias, disputando investimentos de empresas sedentas de novidades. É um ambiente de competição saudável, que vai polindo as mentes criativas, cada vez mais competentes, nas mais diversas áreas que atuam. Contudo, o centro criativo de São Paulo corre o risco de se tornar um templo de batuques e artesanato que pouco, ou quase nada, possa contribuir financeiramente dentro do conceito de indústria criativa. O entendimento político da questão, para se promover investimentos bem formulados e com objetivos claros de lucro com a criatividade, será de fundamental importância para a sobrevivência do projeto onde a criação deve estar de modo proposital, lúcido e profissional, ligada à competitividade e à lucratividade. O design, um exemplo de campo criativo citado por Howkins, mostra bem o quanto é importante abrir a mente política para a indústria criativa. O setor pode desencadear a produção de várias outras indústrias e levantar um capital absolutamente novo. É simples entender isso. Por exemplo, um automóvel de linhas modernas e arrojadas gera muito mais recursos do que outro com linhas antigas e pobres. É algo como comparar a rentabilidade do design de um Peugeot 206 ao de um Lada. Tudo o que envolve a produção do Peugeot gerará muito mais lucro do que a cadeia envolvida para produzir o Lada. Há, ainda, muitos outros setores de alta rentabilidade, como o cinema e a música, que terão chances de serem trabalhados com o foco voltado para o criativo lucrativo. O centro de São Paulo, atuando como pivô entre tecnologias mais avançadas de outros países e o que desenvolvemos aqui no Brasil, é um passo muito importante para nos tornarmos habilitados para os novos tempos.
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