sábado, setembro 30, 2006
Sonhos - Capa da edição nº 20
SONHOS - Estranhos, reveladores, libertinos, reais ou lúcidos. Somos ou não os protagonistas?
"Como os sonhos são criados e qual a utilidade deles, são questões ainda completamente em aberto até o momento", escreveu o médico Cláudio Bassetti, do Departamento de Neurologia do Hospital Universitário de Zurique, na revista Annals of Neurology. Mas, quase sempre, reagir neles de forma tão diferente do que se estivéssemos acordados, é uma unanimidade entre nós. Pelados, voando, em contato íntimo com pessoas famosas, fazendo coisas estranhas ao nosso cotidiano, nos encontramos, muitas vezes, agindo com uma naturalidade fenomenal diante de situações inusitadas. Para tentar clarear o que realmente acontece nos sonhos, seguem alguns passos...
Primeiro é preciso entender o sono - o habitat natural do sonho
O sono é o mais poderoso organizador da fisiologia do corpo. Dormir é uma necessidade natural. O sono passa por diversas fazes que se dividem em ciclos ordenados de atividade complexa noite a dentro. Ao dormir, o adulto faz cerca de 40 a 70 movimentos maiores, entre viradas e sacudidas, utilizando 160 litros de oxigênio e expelindo cerca de 130 litros de anidrido carbônico a cada noite. Essas variações impedem a acumulação de sangue por causa da inércia do corpo, mantendo uma constante troca de oxigênio e de dióxido de carbono, conservando o tônus muscular. O tempo entre apagar a luz e dormir dura menos de 15 minutos em condições normais, sendo a média de 6 a 8 minutos. Existem dois tipos básicos de sono, o lento e o rápido. O lento, inativo, período de repouso corporal, é classificado de sono não-MOR (Movimento Ocular Não-Rápido) e compõe-se de 4 estágios cada vez mais profundos: o ligeiro (ondas theta), o confirmado (ondas theta), o profundo (ondas delta) e o muito profundo (ondas delta). Durante o sono lento, cai o ritmo do coração, a respiração se torna mais vagarosa e a temperatura do corpo atinge o seu ponto mais baixo. O sono rápido se caracteriza pelo traçado elétrico do cérebro, bem diferente do sono lento. Ele apresenta movimentos sincrônicos rápidos dos globos oculares, intensa atividade do cérebro e sonhos vívidos. Esse tipo é classificado como sono MOR (Movimento Ocular Rápido ou REM Rapid Eyes Movement). Cada movimento ocular dura uma fração de segundos, mas um período de movimentos frequentemente dura, com interrupções, 50 minutos.
Através de uma substância, a Interleucina, liberada na parte final do sono, o sistema imunológico é estimulado. Isso explica parte do processo de restauração física que ocorre durante o sono.
A quantidade e a direção dos movimentos oculares correspondem ao que o sonhador está olhando ou seguindo com os seus olhos. Durante o sono, imóvel apenas na aparência, há uma intensa atividade neurofisiológica do organismo humano, retratados por crispações nos músculos das pernas, repelões nos dedos e caretas causadas pelos músculos faciais. Estudos demonstraram, com segurança, que toda pessoa adulta, em oito horas de sono, sonha repetida e normalmente durante 4 ou 5 períodos de 30 minutos. O primeiro sonho dura cerca de 10 minutos e as fazes seguintes vão se ampliando até 30 a 45 minutos no último sonho (frequentemente lembrado), num total (média) de 1 hora e meia de sonhos por noite, considerando 8 horas de sono.
O sonho é um estado alterado da consciência
Dentro do conceito de estado alterado da consciência, a medicina relaciona o devaneio, a hipnagogia, o sono, o sonambulismo, o pesadelo, a alucinação e, mais recentemente, a projeção da consciência, entre outras. Porém, esta última estabelece um curioso paralelo ao sonho, a realidade. Longe das explicações místicas e religiosas, cientistas no mundo inteiro desenvolveram pesquisas que comprovam a existência da consciência fora do corpo, especialmente as experiências que envolvem a EQM-Experiência da Quase Morte. EQM´s são projeções forçadas (compulsória / patológica) da consciência causadas por traumas orgânicos, agentes físicos, químicos ou psicológicos. É comum em doentes terminais, sobreviventes de morte clínica e em situações em que haja momentos de perigo, tais como acidentes, intoxicação, anestesia, afogamento. O termo foi criado pelo médico norte-americano Raymond Moody Jr., em 1975. Em Brasília, a professora da Faculdade de Medicina da UnB e médica infectologista, Celeste Silveira, pesquisa a fronteira entre a vida e a morte e conhece bem o assunto. Segundo ela, entender a projeção da consciência é uma questão de flexibilidade mental. E, para muitos pesquisadores no mundo, o deslocamento da consciência para fora do corpo com total lucidez do acontecimento é um fato. O assunto é tema de pesquisa no Instituto Central de Ciências (ICC) da UnB. O paralelo entre o sonho e a projeção se dá quando, a partir de um sonho lúcido, a pessoa desencadeia uma projeção consciente. Segundo o médico cardiologista, pós-graduado em Psicossomática, Hernande Leite, no programa Linha Direta exibido pela Rede Globo, com a experiência, a pessoa consegue distinguir o que é sonho e o que é a projeção. “Durante a projeção, é como se você estivesse vivenciando algo na vida real” conta. “No sonho, é algo que você está apenas assistindo. Você está vendo um filme do qual não participa”, completa.
Dois terços dos sonhos das pessoas saudáveis são considerados sonhos ruíns ou desagradáveis.
A ponte
O que se classifica como sonho lúcido é diferente de um sonho comum. O sonho lúcido é tornar-se consciente de que você está sonhando. E essa é a provável chave da porta que pode revelar quem somos na essência. O momento da autoconsciência é que nos dá a liberdade de expressarmos a vontade seguida de imediata ação, sem proibições ou incapacidades naturais do corpo humano. Voar, por exemplo, é relatada como uma das mais fantásticas experiências vividas em sonhos desse tipo. Também se revela muito curioso, estar como se quer, onde quiser, instantaneamente, como mágica. O controle do sonho pode gerar uma vida completamente nova ao indivíduo comum. Referências sociais que temos na vida real começam a ser reduzidas a zero, como por exemplo, bens. No sonho lúcido, é possível criar qualquer cenário rapidinho. Casas, carros, dinheiro e tudo mais que constitui referência material que esteja desenhado em nossas mentes. É possível, inclusive, mexer no próprio corpo a qualquer momento (uma plástica básica), o que transforma essas referências em algo irrelevante. A transparência sobre o que realmente estamos pensando é outra curiosa situação. O que se pensa é revelado na hora para quem estiver por perto. E, não raro, micos e micos são pagos durante as experiências. Com o tempo, os sonhadores vão descobrindo que o importante é o que a consciência é capaz de produzir, o nível de maturidade e de autoconhecimento. Numa outra linguagem, os pesquisadores da projeção da consciência revelam que a pessoa pode se reconhecer livre do corpo em tempo real, dentro do habitat natural dos seres humanos, tal como ocorre com a EQM, viver experiências onde possa colher dados para posterior comprovação da projeção, retornar e fazer a verificação. Não menos surpreendente é poder conviver com figuras que só vivem do lado de lá. Ou seja, não estariam projetadas, mas sim, como consciências em seu estado original, sem corpo humano. De acordo com pesquisadores, no estado projetivo é possível reconhecer a qualidade energética das consciências, desenvolver estudos aprofundados sobre si mesmo e trazer com clareza essas informações para a realidade humana. Todos os estudos sobre o sonho lúcido e a projeção da consciência indicam que ambos, apesar de serem coisas diferentes, estão bem próximos, sendo o sonho uma oportunidade de conexão com a projeção.
Dentro dos 100% da população que experimentam os sonhos ou projeções inconscientes, 9,8% vivem o sonho lúcido e 1,2% produzem projeções conscientes.
Conclusão
Muitos sonoros e gigantescos “NÃOs” surgem todas as vezes que tentamos decifrar o lado de lá. Mas existem algumas verdades que não podemos nos esquivar; a maior parte da população não deu e não dá a menor pelota para o estudo da consciência em si. Não se trata do cérebro, mas sim da personalidade que o habita: ninguém pode negar que sonhamos e usamos outro equipamento parecido com o corpo para atuar nesses acontecimentos. Intrigante: se os olhos estão fechados enquanto dormimos, com que tipo de equipamento poderíamos estar enxergando enquanto sonhamos? Os estudiosos no assunto afirmam que todos podem fazer experimentos nesse sentido verificando as informações e promovendo o autoconhecimento. Só com o sonho lúcido, segundo as contas de cientistas especialistas em períodos de sono, seria possível ganhar mais ou menos 4 anos a mais de experiências em estado alterado da consciência durante vida. Mas, chegando à projeção lúcida, o ganho poderia chegar a mais 8 horas de novas experiências por dia (justamente as que você estaria dormindo, mas, na verdade, estaria em projeção). Para finalizar, pela experiência que a maioria de nós teve, não dá para negar que apresentamos um outro estilo de vida quando nos encontramos em sonhos. Fazemos coisas surpreendentes e, quando acordamos nos posicionamos longe daquela personalidade que julgamos não fazer parte de nós. O problema é que, para gerar todas as imagens, atitudes e situações, só há uma fonte: nós mesmos. E ai?
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